sábado, 1 de novembro de 2008

A Excursão

Uma vez lá no Taquali alembrasmos-se de fazê uma excursão.

— Vamos a Lisboa ver os Giròlmos! — Disse o Abel Tengirina.

— Nã sinhoira. Vamos ó Algarvi! — Disse o Zéi Alacrau.

— E porquê ó Algarvi e nã ós Girólmos?

— Porque no Algarvi podes banhari e nos Girólmos nã podes.

Fomos atão ó Algarvi. Pensámos em iri no tractori do Cara de Cinoira mas levava munto tempo. De manêras c'acabámos por alugari uma Carrera, que sempre era melhó estamporte. Por o caminho fomes-se todos devertindo menos a minha Bia, que se farto de gumitari.

— Tu vês más algueim gumitari? — Prêgunti-leu — Ês mêmo charrôca! Fomos ralhando os dois o caminho todo.
Por fim chigámos à praia ô lá o quera aquilo. Ê fiqui parvo! Ê sabia cu mari era uma rebéra grandi, mas assim tamém não! Atã e aqueli podaço d'arali? E arêa boa! O Cara de Cinoira até enche uma saca pa fazê um raboco lá pá malhada dos porcos. Atã e o gentio? E os altemóvens? Erom por demais.

Lá se despimos até ficarmos só com as calças, e fomos a enterrar um agarrafão do Cartaxo lá adiente, drento d'água.

Foi atão que vimos uns bocanas a jogari à bola. Fizemos uma enquipa contra elis pa mostra como se joga. Eles olhavam pá gente e riom-se, nã sê porquêi. Sairom elis. Hôve um que fintô o Zei Alacrau, e já eli ia atrás deli pa lhe dá uma foêrada, condo ê le dissi:

— Dêxó comigo Zéi! — O ôtro, julgava que mia fintari, mas ê di-le uma pupinda nas canelas cu fiz dá 2 voltas no ari. Parcia um piã d'Alvito.

—Se calha, cuidavas que passavas não? — Disse-leu.

Daí a podaço numa jogada dagenti o guardaredis delis ia a sairi ós peis do Cara de Cinoira, e eli fez-le um truqui dos deli: Dêtô-le um punhado d'arêa pós olhos e marco o golo. Elis disserom logo que já nã criom joga mais.

— Voceis nã querem jogar e a gente vamos pa drento d'água.

— Bora! — Gritámos fugindo.

Mal entrámos n'água diz o Zéi:

— Eh! A água é salgada!

— Ah! Éi agora!

— Não? Atã porvem lá. Pusemes-se tôdos a provari a água.

— Qué lá saberi! Banho na mêma.

Mal tínhamos começado a banhari aparece um gajo a dizeri:

— Os senhores nã podem tomar banho hoji. Nã vêem a bandêra virmelhe?

— Atã e condo é que se podi?

- Condo estiver verde.

— Atã prantem lá uma bandêra verdi! Essa é boa!

— Ê banho memo porque quero — Disse o Cara de Cinoira e abalô lá mais pó mei do pego.

Ora enleô-se nas ondas, tiveram cu ir vescar de barco. E éli banhava beim. Despois tiverem cu fazê gumitá a água e arrespiração bocaboca, com o salva vidas dando-le bêjos nos bêços. Aquilo era memo nojento, carafo!

A minha Bia e as ôtras, andarom até horas d'almoço mulhando-se inté às curvas das pernas. Despois almoçámos, bobemos uns escolates valentis e tivemos a tarde entêra cantando à alentejana na praia até o soli se pôri é que se viemos imbora.

O pió desse dia é candámos todos uma mancheia de tempo com as costas e o pêto empolados até más não.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

O Jogo da Bola em Lesboa, sigundo ipisóido

Távamos a genti priparados pa começar o jogo com os alemões aquelis e vai o árbito, chamô a gente ó mei do tirreno. A genti nã sabíamos pó qu'era ma lá fomos. Chigámos lá, obrigô a genti a pôr-se em filêra cumós oitros, e atão começô a ver-le as solas dos pitôs ô lá o qu'era aquilo.

— Olhó! Tá vendo as ferraduras das bestas!

Chigó a nossa vez e ficô munto admirado ca gente jogássemos de camisolas d'alças.

— Pôs homem! E d'enverno ê com camisola enterior de mangas.

Tameim disse cos nossos calções erom esquesitos só porquerom fetos de pano cru. O bocana do árbito priguntou pra quera o bolso atrás.

— É pa mete o tabaco, pa quei cavera de seri?

Ele fez uma cara esquisita e priguntô ond'é ca gente tinhômos comprado as mêas.

— Fèze-as a minha Bia — Disse-leu.

O pió foi condo ele disse ca gente nã podiômos jogar de botas cardadas. Só falto veri sa'gente tinha as unhas dos péis cortas! O bicho mando a gente calçar-si d'ôtra manêra.

— Ôôh! — Fez o Zei Alacrau- — Já tás variando. Tás aqui tás com os cascos partidos! Nã tás não!

Mas eli tanto moê a genti que lá tivemos d'ir calçar-se. Boum ma lá começo o jogo. Sairom os alemães; a genti trancámes-se à defesa antes da nossa ária, qué pa nã os dêchar arrimar à nossa baliza e dali fazermos os nossos contrátraques.

Vai atão, um comprido dos delis todo ensiguêrado com o bola, condo ê, o Zei Alacrau e o Tói o cercámos. Ê di-le uma foêrada na canela e na bola ó memo tempo, o Tói empurrô-o e o Zei passô-le por cima comum tratóri, fugindo com a força toda atrás da bola. O árbito mostrô-le o cartão encarnado.

— Eeeeiii! O qué quê fiz?— Priguntô eli.

— Rua!

Boum, o Zei saiu e atrás deli o alemão tameim... mas de maca.

«Isto sã uma caliquêragem.» — pensi eu — «Nã aguentom nada.»

O jogo continuô e acabo ós cinco minutos porque já tinhómos 4 jogadoris na rua: o Zei porque tinha atorpelado o oitro; O Cara de Cinoira porqum alemão le fez olhos tortos e eli pulô-lhe p'ra cima, aventô-o todo, só se viom podaços da camisola do oitro avoando. Eu, porque di uma survelheta nas ventas do árbito condo eli marcô uma falta contrá'genti. E o Tio Mariano foi pró olho da rua, porque táva fazendo a barrera e fumando ó memo tempo. Aquele bicho tameim fumava munto! Já tinha a piquena ária chea de birondas!

O árbito acabô o jogo, e a genti dissemos ós do Alvarrão pa jogar contrá'genti de botas cardadas, pa mostrari áquelis babosos, como si jogava. Elis desseram logo:

— A gente ganha...

— Ganhas... o mêmo ca burra ganho em Maio!

Boum, mas lá jogámos à nossa manêra, até que numa jogada dêxarom cair o Cara de Cinoira dentro da ária.

-Penalte!

Elis disserom que nã era, mas punhada de cá, punhada de lá, lá os convencemos. Marqui ê o penalte e atiri ca força toda. O guarda-rêdis nem a viu. Tinhamos-se vingado.

Más tarde em Moira, compri um jornali onde falava do nosso jogo e onde dezia c'aquilo nã erom maneras de se jogari à bola. Tóóóóuuuu!

— Pensi eu — Vocês teiem mas é dor de corno.

O Jogo da Bola em Lesboa, prumera parte

Uma vez, chigô ó Taquali um gajo com um jornali, onde vinha dezendo que s'ia fazeri em Lesboa, um tornêo entre piquenos clubis, pa ver se descobriom novos jogadoris

— Já tá — Disseu — Sa genti lá formos ficamos todos convocados.

Começamos atão a tratari das coisas pá viage. Premêro viemos a Moira pa alugari uma carrêra e condo íamos chigando à parage das caminetes queim éi ca gente véi? A enquipa dos Trigues do Alvarrão, que tinhom ganhado a taça à genti com uma manchêa de ciganices.

— Qué que vêiem fazeri? — Préguntámos.

— O cagente queri. Porquêi?

— Porque sim! Vá!!!

— Boum. Já que querem saberi — disse, o capitã delis em ar de gozo — Viemos alugari uma caminete pa irmos a Lesboa.

— É o quêi? Quem vai é a genti!

Boum, começamos a lavrari d'atravessado, até que s'alançámos uns ós ôtros pôs antão. Condo acabámos com aquilo, fomos a falari cu home das caminetes e ele podiu munto denhêro pá viage.

Ora nem a genti nem os do Alvarrão podíamos pagari a nã ser que se juntassomos. Mas coma genti nã se chupava, teve mau pa se decedir. Até que resolvemos ir memo com elis, que nã tínhamos ôtro remédio.
Condo se montámos na caminete dêxámos o lado da soalhêra pó dos Alvarrão. Forom à esturrêra o caminho entêro. Condo chigámos ó Cento Destágio ô lá ó quera aquilo iom esbrazeados até má não! E a gente rinde-se.

O pió foi que nã criom receber a genti, poque nã le tinhômos dito nada antis. De manêras que tivemos de dromi na caminete nessa note, e só no ôtro dia é c'arranjaram cartons à genti.

O Cento Destágio, foi o sitio onde ê comi a comida más mal fêta da minha vida!

De manheim, em vez de nos darem pã com lenguiça ô tôcinho e uma punicada de cafêi, derom-nos lête e pã torrado com marmelada. A genti nem le tocámos. Ò almoço quisemos açorda, derom-nos pêxe. Ò jantari, quisemos uns fêjanitos com orelha de porco, derom-nos frango com batatas. Boum, lá comemos porque tinhómos passado o dia entêro em fraqueza ripando umas laricas que já nem le viômos o rêgo.

Tevémos lá uma semana e todos s'admiraram munto cagente por quem vez de se peorcuparmos com os trenos e o tornêo, passássemos os dias entêros espojados debaxo das arves fumando, e bobendo vinho.
Até porqu'iamos jogari com uma enquipa alemôa, quêles tinhom trazido pa jogari com as enquipas todas, e a que tivese jogadores milhores, é qu'ia jogari contra Benfica e o Sport.

Chigô o dia do jôgo, e nunca más m'esqueço daquilo que senti, condo pisi a premera vez um campo arrelvadu, era cá uma macieza nos péis! ê dantes só tinha jogado em campos cheios de bajôlos foi atão que repairi cu Cara de Cinoira, tava arrancando a erva pra drento dum saco, pa dá ós coelhos lá no monti. Condo eli acabo, lá se preparámos todos.

Ia começa o jogo.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

A Votação

Uma veiz saímos do Taquali, ê o Zei Alacrau e o Cara de Cinoira, e fomos à aldêa assestir à reunião d'assemblêa da sociedade. Com'agente éramos sócios e tocávamos na banda, entrámos por ali adentro e fomos bober a bica. O gajo que táva lá no bari, tiro a escolatêra do carféi do lumi e basô pa dentro de três tegelas que trôxe à genti.

— Atã e o açucari? — Prégunti-leu.

— Pêra lá homem! Ê nã tenho quat'mãos! — Condo eli trôxe o uçucarêro o Cara de Cinoira preguntô-le s'era açucari do amarelo.

— Ná! Ê do branco.

— Atã e do amarelo?

— Do amarelo nã hái!

Bobemos aquilo, pagámos dôs estões cada um e fomos pá rênião que po acaso até já tinha começado. Condo entrámos, elis comprimentaram logo a genti.

— Hiéé! Gado badiiiuu!

— Hiéé! Corja dum cabrêro! — Respondemos a genti.

Òdespois dos comprimentos e duma migalhinha de conversa, continuo a rênião:

-Uma das razões por a qual o genti reunidos — dezia o presedente — é cá mêa dúzia de gulosos, que são sócios disto e que veiem cá comeri e bobêri má barato, fartom-se de jogar à batota e nã querem sabe da banda e da sociedade pa nada. Só querem é badiage e jogari à bola e òdespois dizem que sã músicos.

— Olha lá, ó pato bravo! — Disse-leu — Isso é cô a genti ?

— Êi... — respondeu o bicho.

— Pôs olha, se todos fossem com'agenti, ist'agora nã tava assim dado ós bichos. E po te mostrari isso só te digo, a enquipa lá do Taquali, já foi jegar a Lesboa, e a banda aqui da Sociedade o má longi que foi, foi a Vale de Vargo.

— Munto beim! — Deu um berro o Cara de Cinoira.

— Munto beim o quê?f Se voceis tevessem uma migahinha de consciência nem sequeri alevantavom as orelhas. Aparecem aqui condo calha ensaios ná é com voceis... aquele bocana alêim — disse eli apontando pó Zei Alacrau — partiu algumas três gaitas e nã aprende a toca nada de gêto.

— Olha lá ó charrôco — Disse o Zei — Atã e tu nã vêis quê tinha de górdar as vacas e que nã tinha tempo de m'ensaiari?

— Ê nã parti gaita ninhuma! Esquecia-me era delas à entrada do currali condo ia abrir a porta ó gado. Punha a gaita no chão e òdespois abria a porta. Condo mi alembrava da gaita já os bichos le tinhom passado po riba.

— Boum, isto quer é uma votação: queim quer aquelis três pa sócios alevantó braço; queim nã queri nã alevanta...

— Ei o bicho sé cigano! — Disse o Cara de Cinoira. — ...e queim os quê pa músicos espoje-se no chão! — Eli disse aquilo porque sabia que ningueim s'ia espojari!

— Ó piolhoso! Vô-me aí patei-te todo! — Disse-le o Zei Alacrau.

— Queim? Tu? — Boum, o Zei nem le disse má nada. Pego num bombo, enfiô-lo por os cascos abaxo, e òs despois dê-le mêa dúzia de estramelos nas ventas.

— Isto nã fica assim! — Dezió Presedente.

— Há pô não! — Responde o Zéi — Agora incha!

E foi assim c'agenti não se dêxámos enganari e continuámos sendo sócios e ó tempo, músicos da sociedade.

O Balho

Uma vez saímos do Taquali ê, o Zéi Alacrau e o Cara de Cinoira, pa'aí 18 ô 19 anitos, e de manêras que q'riamos era ver o gado bravo, que como quem diz: ver o mulherio. Como sempri, o balho era na sociadade e no lá chigamos, a casa já tava toda atabicada de pessoal inté à porta. Entrámos lá pra drento, pegámos cada um em sua cerveja e pusemes-se com os péis encostados à paredi, correndo os olhos por o mulherio. Foi atão (já o bailho tinha começado), que vi na fila da frenti, uma moça quê nunca tinha visto antis, tava ali entada muto séria, mostrando a sua boniteza, conde me chigui lá ó pei e prégunti:

— Qués balhá com migo ô não?

— Prégunta à minha mãe — dis'ela rindo-se. Ê prégunti, e a velha dela olhô-me da cabeça ós péis.

— Vai lá! — Diss'ela — mas balhas aqui ó pei de mim porquê nã qué etufêgo nem pôcas-vergonhas... E nã o dêxes arrima muto!

— Olha lá, a tua mãe dromiu com o cú volto pá lua esta note?

— Eh! Drome sempri!

— Comé que tchamas?

— Bia... taã e tu!

— Manei... e jogo à bola no Taquali!

— Ah quengraçado! Ê sô da Defesa da Borralha.

Boumm, más conversa menos conversai acabi po marcarum encontro no ôtro dia. À hora marcada lá aparece ela no sítio que tínhamos combinado.

— Tão ? Sabes o qué quê te quero pediri?

— Não, mas calculo — Diss'ela ca cabeça baxa, e o
péi dêtro firmado na biquêra.

— E queris? — Torni eu. Ela riuse e voltô-me as costas.

— Quero — Rispondeu. Ê chigui-me ó péi dela e pedi-le um bêjo.

— Ah sem vergonha! O que tu queres é chulici!

— Nã éi não! — Boum lá tive ca convenceri que nã era por mali. A parti desse dia começamos-se a encontrar naquele sítio, até quela pediu consentimento da mãe pa ê ir lá ó monti da Defesa a namorari. A velha era torta das orelhas ma lá consentiu. E uma tardi, chigui ê lá ó monti, qué pós pais dela me conhecerem. Depois duma migalhinha de conversa o pai dela abalo e só fico a velha fazendo mêa.

— Mana Jôquina! Posso--me sentari ó pei da Bia? — Pidi ê.

- Podis!...Ma nã t'arrimes muto!

Ei o raio da velha! Se nã fosse por quei tinha-le esborrachado os cor... a cabeça contrá paredi.

— Tã Bia? Qué que tens feto?

— Ora, tenho dado de come às galinhas...tenho é um trabalhão com as piruas que tã no choco, tenho de le dar de comer à mão!

— Ah! Olha, ê agora ando atrás duma vara de porcos.

E foi assim passado um ano e tali quê me casi más a minha Bia. Logo no premê dia de casamento tive que l'enxugar o pêlo, porque condo chigui lá ó monti, tava ela dand'á língua com umas amigas ca tinhom ido vesitari, em vez de tar cosendo as mêas.

Estôôôiro!

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A pechina

Uma vez quê vim à vila, más o pessoal candava sempre comigo, resolvemos ir banhar à pechina.
Comprámos os belhêtes e fomos por aleim adiente, até que se resolvemos a ficar numa mesa daquelas.

— Ora Beim! — Disseu — Adond'é cagente vai vestir o fato de banho?

— Deve haver p'aí alguma casinha. Bora preguntari. — Disse o Cara de Cinoi-ra.

Entrámos lá pa um sitiei e preguntámos:

— É aqui c'agente se vestimos?

Mandarom-nos embora c'ali era só pa melheris; o dos homens era más à frante. Chigámos lá e o gajo pedi-nos os belhêtes.

- Aventámesos!

Ele responde que só podíamos lá vestiri se levássemos os belhêtis.

— Oh homem! Atã se nã acredita, venha com a genti lá arriba à belhetêra pa eli mostrar que pagámos.

Ele disse que nã podia sair d'aléim, mas que nã havia problema; agente podia-se vestiri memo sem belhêtis. De manêras que pegámos nas cruzetas aquelas, despimos-se, prantámos lá a rôpa e já se vínhamos cond'eli nos dissi que tínhamos da dêxar lá.

— Quêi? Pa ma rôbarem?! Ele nã triguêrão!

Levámos a rôpa lá pá mesa qu'é por monde as mulheris ficarem de guarda dela, nã fosse aparcer algum pirum com vontadis de levar alguma coisa. O engraçado foi c'antes da gente se meter drento d'água, quiserom que se molhásemos no chuvêro.

— Atã isso é o ca gente vai fazeri ali drento!—Disse o Cara de Cinoira apontando pá pechina. — Ê até trusse uma falhinha de sabão e tudo! Ei assim q'ele disse aquilo!... O guarda pegou no sabão e aventô-o pá estrada ca força toda.

— Eh o mê sabão!... Pra que seria isso? Tás aqui táõ levando um estramelo nas ventas!

O guarda nã ligo e disse pá gente se lavarmos ôtra vez ódespois de sairmos da água.

— Eh! Com tanta lavage um homem sai daqui todo derencasquiado!

Pulámos pra drento drágua e tivemos uma migalha até que se lembrámos d'ir pular da prancha más alta. O Zéi foi o premêro: rasgo fugindo cá da ponta, batê os péis ca forca toda, e lá foi eli de voio por o ari, com os braços esticados e as mãos juntas. Só nã gosti munto do mergulho deli, porque levava as pernas abertas, e ódespois dê volta no ari, acabando por cair do costas.
Ficô todo encarnado! As pessoas preguntarom-le se se tinha alêjado.

— Ele não! Sê m'alêjasse com um saltinho destis, metia-me em casa!

O Cara de Cinoira pa nã acontecer o memo c'ó Zéi, jogô-se más pá frenti e caiu de barrigada. Ê jogui-me memo de cabeça pra baxo mas di volta e caí de costas.
Ódespois tavamos aleim munto beim, condo uns babosos quaisquer nos desserom pa fazermos uma corrida com elis.

-Bora! Já tá!

Começámos a banhari, e elis cada vez más à frenti da genti!

— Perem lá aí! Que manêra de banhar é essa?

Eles desserom qu'era croli. Agente nã éramos capazes dos apanhari, e atão griti ó Cara dg Cinoira, qu'era o que tava más ó péi das escadas:

— Vamos a cercá-los e amargulhamesos um pecadinho.!

— Bora!

Eh! O Cara de Cinoira partiu desalvorido pa riba d'um, jogô-se em salto de pêxe pra cima deli e o ôtro que nã tava à espera dum fardo daquelis, nem teve tempo de piari.
O bicho engalfenhô-se com eli drento d'água c'até parcia que tava peando um borrego. Dêle um nou ós braços e às pernas c'o ôtro até já bobia gragulejos ós moitôes. Daí a pecadinho diz aquele bicho:

— Olhó! Ah já ganes!!...

Boum, condo ele o largo,
o ôtro até tava roxo. Só porque teve uma migalhinha debaixo d'água, com as guelas apertadas, ia-le dando uma macacoa!

É por isso qu'eu digo sempre o même: Estes rapiazes d'agora sã mum fracos! S'eles comessem açordas e migas com fartura em vez de bifes, erom munto más rijos, e aguentavom-se munto melhó nas canetas!

terça-feira, 14 de outubro de 2008

A Escola

Conde era rapazinho p'aí com uns 7 ò 8 anos, a minha mãe disse-me quê tinha d'ir pà escola aprende a ler e a escreveri.

-Nã quero!— Griti eu — Se me chegom a tanchar na escola fujo de casa!

Com'a minha mãe pa estas coisas era mais má c'uma dôr de barriga, dê-me um estramelo nas ventas que me fez ver as estrelas 3 dias pa lá do solposto. De manêras que na ganhi nada com a torada que fiz e acabarom por me pôri na escola da Dfesa. Lá ia ê todos dias mais os ôtos do mê tamanho a péi até à escola. E erom uns quilómetros valentis! E ódespois tinhamos que passar a ponte do Ardile adonde ficávamos banhando o maior parte das vezis. Encontê andi à escola, nã hôve nem um dia (nem um diazinho sequer), quê chigasse a horas. Todos dias levava uma carga de estoiro e nã me desmanginava. O pió de tudo era a passage da ponti: ó iamos pescar à lapa ó íamos banhari, e escola... visteza! A pressôra préguntava ondé ca gente tinha andado e a gente dezia sempri:

-Fomos ós ninhos, m'sôra!

No fim ela dava dez réguadas a cada um, e mandava-nos pó canto de castigo. Êramos sempe os mesmos: ê, o Zéi Alacrou e o Cara de Cinoira. Desde piquininos c'andámos sempe juntos!
Uma vez, esta nunca mais me esqueci), no entervalo armámos uma garreia, e condo a pressôra foi lá ròbámos o sino leváme-so ò Ardile e tanchámos com eli no fundo do Pego dos Marmelêros. Ódespois abalámos cada um pa sê chêral lá pa longi; de manêras que condo a perssôra quis meter a genti na sala teve c'andar fugindo por aquelis cabeços, chamando a genti. Eh que torada! Já nã hôve escola nesse dia qu'ela nã conseguiu apanhar nengueim. O pió foi no dia a seguiri quela dê uma sova de réguadas na gente todos, e ódespois fez preguntas. Condo chigô a minha vez, quis saber quem é que tinha sido o premêro Rei de Portugali.

-Sê lá eu! Algum pante-minêro!

-Levas dez réguadas!

-Qu'é lá saberi! Nã me doiem!

-Batê-me ca força toda e passô ò Cara de Cinoira.

-D. Dinis! — Responde eli. Mái estoiro, A seguir foi o Zéi Alacrau.

-Ê cá nã fui!

Eh! A pressôra chamô-le tudo! Dê-le uma mã cheia de réguadas co Zéi até arroto a pirum seco ódespois fez-nos um ditado. Condo o corregiu, disse quê era o que linha tido menos erros. Fiquei todo babado.

- Atã e contos tive msõra?

-14!

-Sóu?! Eh! A última vez que fizemos o ditado, tive alguns dezanovi. Tô a ficá boum!

Levi quatr'anos pa fazè a sigunda classi, e dezia sempe ó mê pai que passava, todos os anos de manêras quele julgava quê já andava na quarta.

-Atâ e este ano? Passas? — Préguntô-me eli.

-Tá um becado malote!

-Tá um becado malote? Atã mas que conversa é essa? Tarei quir a falar ca pressôra ?

Ei ceu! Esconfique até as unhas dos péis se me puserom brancas! O mê pai chigô lá à escola e préguntô que tal ia eu. A pressôra disse quê nã era munto mau, mas naqueli ano não devia passari.

-Tameim! A 4ª classi é uma migalhinha puxada!

Quarta classi? Condo ela lhe dissi quê só andava na sigunda, ele dê um pulo até às nuves. Parecia que le tinha picado um atabão! Picô o burro drêto ô Taquali com vontadis de me esfolar vivo, ma condo lá chigô, já ê tinha tugido. Ora Boum! Andi fugido alguns dois dias, ma memo assim nã me livri da sova. E foi por casa destas capeias que só acabi a 4ª classi com alguns dezassete anos.